17.10.13

plural, diferença, conflito


Ele recorre frequentemente a um tipo de filosofia vagamente rotulada de pluralismo.
Quem sabe se esta insistência no plural não é uma forma de negar a dualidade sexual? A oposição entre os sexos não pode ser uma lei da Natureza; assim sendo, os confrontos e paradigmas têm de ser dissolvidos, quer os significados quer os sexos devem ser pluralizados: o significado tenderá à sua multiplicação, à sua dispersão (na teoria do Texto), e o sexo não será tomado por nenhuma tipologia (haverá, por exemplo, somente homossexualidades, cujo plural confundirá qualquer discurso constituído e centrado, ao ponto de lhe parecer inútil falar em tal coisa).

Similarmente, a diferença, essa palavra tão celebrada e tão insistente, prevalece por dispensar com ou triunfar sobre o conflito. O conflito é sexual, semântico; a diferença é plural, sensual, e textual; o significado e o sexo são princípios de construção, de constituição; a diferença é por sua vez o próprio momento de dispersão, de friabilidade, é um vislumbrar; o que importa não é a descoberta, numa leitura do mundo e d* própri*, de certas oposições, mas sim de intromissões, transbordares, derrames, derrapagens, ajustes, deslizes...

De acordo com Freud (no livro sobre Moisés), um toque de diferença conduz ao racismo. Mas um elevado grau de diferença afasta-nos dele, irremediavelmente. Igualizar, democratizar, homogeneizar - tais esforços nunca conseguiram expelir aquela 'mais pequena diferença', raiz da intolerância racial. Para tal é preciso pluralizar, refinar, continuamente.

-- Roland Barthes

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